segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nossos bumerangues


"Veja! Não diga que a canção está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na vida! Tente outra vez... Beba! Pois a água viva ainda tá na fonte. Você tem dois pés para cruzar a ponte. Nada acabou!" - Raul Seixas - Tente Outra Vez



As pupilas se dilatam; emudeço; as lágrimas escorrem sem rumo. Sensações não são despertadas por coisas à toa... Então, deixe-me contar-lhes as razões das minhas. Coloquei uma das músicas que mais me toca, e cá estou refletindo, tirando conclusões de mim e do mundo que eu não imaginava que seria capaz; digo conclusões porque eu vejo um fim próximo, muito mais próximo do que imaginamos.
A canção se chama Dear Mr. President (em português, Querido Sr. Presidente), e baseia-se em perguntas que a cantora, Alecia Beth Moore, faz ao ex-presidente norte-americano Bush. Dentre diversas perguntas, eu congelei nesta: “como você sonha quando uma mãe não tem chances de dizer adeus?!”. Acredito que todos vocês, caros leitores, estejam cientes do acontecido nos últimos dias: um adolescente que sofria bullying - ato de violência física ou psicológica – na infância, a fim de se vingar, invade sua ex-escola e atira em todos que ele vê, inclusive e, talvez, principalmente, crianças entre 10 a 14 anos. Vocês imaginam o que deve ser para uma mãe perder um filho?! Perder uma parte dela, a parte mais importante?! Eu não tenho filhos, mas eu imagino a dor, e eu comprovo isso pelas palavras da minha mãe ao ver o acontecido: “eu não sei o que faria se fosse você, eu não sei o que seria de mim sem você”; e é nos braços, no aconchego da minha mãe que eu sinto isso! Mães que deram um “adeus” implícito em um “até mais” – pois as viram saindo pelas portas, achando que as veriam entrar por ali, entrar com vida. E dói saber que crianças crescem nessa sociedade hostil, nessa sociedade vergonhosa que, infelizmente, nós construímos.
Nós achamos que não fazemos nada de errado e que não contribuímos para isso, mas acreditem: nós fazemos, por menor que sejam nossos atos. Há uns meses eu encontrei uma criança, que aparentava ter menos de 13 anos, jogando uma pequena mesa no rio, e quando eu a adverti, ela simplesmente riu ironicamente, acintosa. Eu sei que não há comparação com a tragédia vivenciada no Rio de Janeiro, mas são ações assim, pequenas, que definem o caráter de uma pessoa e refletem em consequências desastrosas. Nós não estamos destruindo nada além de nós mesmos, e acreditem: nossas ações são como bumerangues, e se vão, elas voltam para o mesmo lugar de onde vieram; e, geralmente, com uma intensidade extremamente maior.
Desejo forças às famílias que sofreram perdas nessa tragédia do Rio de Janeiro, que Deus olhe por todos nós.


"Querido Sr. Presidente, venha dar uma volta comigo. Vamos fingir que somos apenas duas pessoas, e você não é melhor do que eu. Eu gostaria de fazer-lhe algumas perguntas se pudermos conversar honestamente: O que você sente quando vê tantos sem-tetos nas ruas? Por quem você reza a noite antes de dormir? Como você dorme enquanto o resto de nós chora? Como você sonha quando uma mãe não tem a chance de dizer adeus?" - P!nk - Dear Mr. President

Um comentário:

  1. infelizmente vivemos numa sociedade injusta e que como vce diz, nós mesmos construimos...onde nosso mundo vai parar assim?

    ps:finalment vce voltou a postar ;)

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